sábado, 20 de fevereiro de 2010

ambiente político

O meio político da nossa praça anda agitado.
Não falo das intrigas partidárias e da divulgação de escutas que trazem para a rua processos de investigação judicial que, quer se queiram quer não, tocam muita gente. E tocam-na na honorabilidade, no sentido da decência, da ética ... Todos se estão a sair mal. Os acusados e os acusadores, os que deixam escapar e os que publicam ... políticos, jornalistas, magistrados, juízes, comentadores ... todos chafurdam num lamaçal inominável. Ninguém aqui é inocente. Todos, de uma forma ou de outra são cúmplices da falta de respeito para com um povo que precisa de um desígnio nacional para ter a coragem e a força necessária que o leve a perceber que é ele que tem o seu futuro na mão, e não aqueles outros a quem entregou o seu destino... ao governo e às oposições...
Não acredito em homens providenciais, em sebastiões que sabem o que querem para a pátria, nem tão pouco acredito na pátria. Aliás, penso que poucos acreditam, já que a tratam como se fosse a sua coutada particular, onde se podem fazer todos os desmandos sem que se seja chamado à responsibilidade.

Mas as águas políticas estão a agitar-se... a campanha presidencial acelerou com a entrada em cena do Fernando Nobre. Não é o homem providencial... é apenas uma homem que pode trazer à discussão políticas outros temas... Não tem projecto político, disse ele. Não se candidata a um lugar na governação, mas ao órgão máximo da hierarquia do Estado. Não é um homem do aparelho partidário. É um cidadão empenhado e participativo... daí que um ser político interessado na Res Pública...
Talvez neste tempo comemorativo da República, possa ser possível um outro diálogo... faziam-nos bem... aprendermos a dialogar/discutir para lá do fait divers, da intriga política, da mesquinhez dos dias pequeninos de gente pequena e medíocre, apesar de aparentemente culta, falando diversas línguas... mas sem saber falar aquela que mais interessa ... a de um humanismo e de uma cidadania responsável.

Esperemos... os dias que se vão seguir têm para mim todo o interesse político.
Vamos ver...

E também poderemos galhofar com esta coisa da política... já pensaram se a Maria Papoila também quer ser candidatar à Presidência? Que terá ela para nos dizer?

Esperemos

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

voltei, depois de uns meses de silêncio

sim,
vou voltar a escrever alguma coisa.

África lá continua no hemisfério sul...
Aqui está frio... é Janeiro rigoroso... nem o aquecimento forçado nos aquece

Agora comemoramos a república

Mas não abandono África

sábado, 9 de maio de 2009

Angola 6

Já estamos em Maio... e se disser que começo a ter suadades das mordomias europeias?
A energia falhou, falta todos os dias e a bateria do computador está a esgotar-se.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Angola ---- 25 de Abril, ainda

No sábado comemoraram-se os 35 anos do 25 de Abril. É por demais comum dizer-se que os militares revoltosos libertaram Portugal das garras de uma ditadura de quase 50 anos. A liberdade foi restaurada e o MFA triunfante pode tentar levar a cabo os três D do seu programa essencial: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar...
E a Descolonização chegou pelas mãos que carregaram armas contra os povos das colónias levantados contra o poder colonial português, naquilo que os movimentos de libertação angolanos denominação, nos inícios dos anos sessenta como a acção directa, ou seja a guerrilha.

O serão do dia 25 de Abril foi passado a ouvir Zeca Afonso. Emocionámo-nos com Grândola, vila morena, porque um dos ícones dessa Revolução. Muitos acreditámos (e teimosamente continuamos a querer acreditar) que em cada rosto víamos um amigo, que todos poderíamos vir a ser mais iguais e que a fraternidade se cumpriria num país sofrido e sofredor.

A páginas tantas, uma canção perdida nas nossas memórias tomava conta da sala. O ritmo africano (angolano, mais propriamente) era por demais evidente, na noite quente e abafada de Luanda.
Do ritmo musical passámos à procura da compreensão plena das palavras do Zeca. Falava então de um homem novo, de um novo país, do fim do colonialismo e do imperialismo...
Muito datado no tempo, aqui ficam as palavras do Zeca, relembradas na noite das comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril, para muitos de nós, de todos os sonhos e utopias... e esta canção também foi uma delas:

I
Um homem novo
veio da mata
não é soldado de profissão
não é soldado de profissão
é guerrilheiro
na sua aldeia
a mãe o diz
de uma fazenda faz um país
de uma fazenda faz um país

Refrão

Colonialismo, não passará
Imperialismo, não passará
veio da mata
o homem novo do MPLA

II
A milha quente
vai despertando
darei ao mar
agora ou nunca, não há que errar
agora ou nunca, não há que errar
Foi em Fevereiro
no dia quatro sessenta e um
Angola existe, Povo há só um
Angola existe, Povo há só um

Refrão

III

A cor da pele
não é motivo para distinguir
Angola é nova, só há que unir
Angola é nova, só há que unir
Se novos povos
querem por trono no teu país
Dum guerrilheiro, faz um juiz
Dum guerrilheiro, faz um juiz

Refrão

IV

Olha o caminho da Polisário
do Zimbabwé
África toda, levanta-te
Àfrica toda, levanta-te
Se novos povos
querem por trono sobre o teu chão
por cada morto, nasce um irmão
por cada morto, nasce um irmão

Refrão


(nota: esta canção faz parte do último concerto ao vivo do Zeca no Coliseu de Lisboa)

Este novo país do que falava o Zeca, este homem novo que veio da mata têm de se reinventar, para que a democracia, a liberdade e a fraternidade não sejam palavras vãs.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril

Parece redundante, mas hoje só me apetece escrever:

25 de Abril, SEMPRE!...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Angola 5 (acho)

Continua a fazer muito calor.
O ar condicionado, onde estive metida na 3ª feira, fez-me não sei se alergia, se constipação... o que sei é que fungo, mas nada de especial, para além de estar picada pelos mosquitos, esperando que nenhum desses seres abjectos estivesse consporcado pelo virus do paludismo, pois é uma doença bué de chata... eu sei do que falo, pois já tive 10 por campo...

Há material de primeira água para a minha tese e, sobre isto, fico-me por aqui...
Uma coisa que me tem admirado muito, é a falta de cursos de História nas diversas Universidades Angolanas. O governo, nomeadamente a secretaria de estado do ensino superior, faz passar, em tempo de publicidade, indicações dos cursos ministrados nas várias universidades e, em nenhuma encontro a menção a uma licenciatura em História. Leio, sim, Ciências Políticas...
Mas a história desta nação tem de ser feita e com quem?
Deixo a questão no ar.... efectivamente pouca coisa tem sido produzida... mas era já tempo e tempo de reencontrámos as nossas histórias... acho piada falar-se muito da CPLP e não haver uma memória comum. Nada surge por acaso, ela é fruto de desenvolvimentos anteriores, de encontros e de muitos desencontros, de aproximações e de afastamentos, de lutas, de guerras, de negociações e de paz , mais ou menos conseguida, mais ou menos fantasiada. Será a História que nos toca a todos que poderá ajudar à compreensão dos dias de hoje e das relações que antigos colonizadores e ex-colonizadores actualmente tecem, não desligadas de um amor/ódio, de lembranças que magoam, que calam fundo e que fazem ainda sangue, porque os povos, como as pessoas, têm também memórias e são essas memórias que podem fazer com que os povos, as nações, como as pessoas, se consigam reencontrar consigo e com os outros, num mesmo plano, no plano de uma cidadania plena.
É isto que acontece?
Francamente acho que não e os tiques que opuseram povos e nações persistem, provocando nódoas que alastram no convívio do quotidiano.
Racismo primário surge de parte a parte, desconfianças são mais do que muitas...
Enquanto não conseguirmos, colectivamente, aceitar as nossas histórias e no muito que se tocam, sabendo que não são histórias heróicas, antes feitas por homens e mulheres que também erraram, porque viver o dia a dia não permite avaliações objectivas, antes exige a resolução do que é mais comezinho...
Nestas nossas histórias, que se transformam numa história comum, não há, para mim, heróis, santos, algozes e vítimas. Os homens e as mulheres que foram os actores deste drama tiveram um pouco de tudo... Contudo, o sistema colonial português e o regime ditatorial português, rumando contra os ventos da história, tornou-se inexoravelmente no grande responsável pelo que depois os povos tiveram de sofrer...
Sinceramente considero que é fundamental que todos, portugueses, angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdeanos e timorenses, nos reconciliemos com a História que nos é comum, não venerando-a estupida e acriticamente, mas compreendendo-a para, juntos se tal for possível, nos encontrarmos na Língua Portuguesa que não é monolítica, mas cheio dos matizes que a enriquece a a torna única.
Alguém me dizia, já aqui em Angola, que seria o cumprimento da pessoana profecia do 5º Império... prefiro antes rever-me no mesmo Pessoa e na minha pátria como a Língua Portuguesa, eu que, muitas vezes, não sei bem se tenho pátria e se quero como minha a pátria que aceitou o meu registo, quando ainda havia colónias, transvestidas em províncias ultramarinas para que a carta das nações unidas não pudesse ser cumprida por um governo que oprimia uma multiplicidade de gentes e de povos.
E hoje que é dia do livro, como é delicioso ler esta língua escrita por gente tão diferente e de forma tão diferentes, mas de uma maneira tão rica, criativa e inovadora...
Os meus maiores cumprimentos a todos aqueles que sem qualquer pudor tornam mais rica a pátria comum que é a Língua Portuguesa.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Angola 4

Neste diário inconsequente, que vou criando durante o tempo que estiver em Angola, faltam muitos dias e muitas páginas. Não que tenha perdido as páginas pois os dias, esses vivi-os, não sei se bem, se mal, se até à exaustão, se numa modorra dorminhoca... as páginas não perdidas foram simplesmente não escritas ... porque não me apeteceu, porque fazia muito calor a a minha capacidade de fazer alguma coisa estava reduzida ao mínimo ou, simplesmente, porque o google não abria e a net estava sempre a cair. Não, não era por falta de energia, que é intermitente e todos os dias tem de desaparecer, nem que seja por um bocadinho, para todos vermos como ela é importante... faltando a energia na rede, havia a do gerador mais ou menos barulhento e, na falta de combustível, a bateria do computador e o candeeiro a petróleo, para noite dentro ver as teclas das letras que se amontoam nestes textos desconexos.
Nada... tenho tido preguiça... preguiça de quase tudo... só me apetece ficar a modorrar, sem fazer nada, sem qualquer movimento, sem que o cérebro exprima algum pensamento ou alguma ideia mais elaborada... simplesmente parado.
Contudo, tenho lido alguma coisa.... o último romance do angolano Manuel Rui A Janela de Sónia , bem como um romance do José Rodrigues dos Santos, que cá encontrei, Codex 623, sobre as origens do Cristóvão Colombo. Reli Ondajki, esse menino fadado das letras angolanas. Será com Ondjaki que, voltando a Portugal e às minhas lides profissionais como professora, que começarei a falar às crianças de África e de Angola, a fim de dar cumprimento ao plano com que me candidatei à licença sabática.
Mais, aqui nunca poderemos planificar nada com uma margem mínima de segurança. Tinha tudo previsto e combinado para estar em Luanda esta segunda feira de manhã. Cerca das 9h, tudo se alterou. Para dar cumprimento ao previsto, tinha de ir, à pressa, arranjar um taxi-candongueiro... não arranjei, porque em abono da verdade, senti um medo incrível em enfrentar a estrada, conduzida por um desconhecido... Alguém faz ideia como cá se conduz? Só os que cá vivem. Contado é muito difícil... falta de confiança no outro? evidentemente. Toda a falta de confiança... e, depois como regressava? tenho de gaantir um mínimo de conforto, senão é tudo bué de difícil.
Então, escrevi vários emails e fiz allguns contactos que necessitava fazer.
De tarde, se não me der a inatividade total, von acabar de ler uma obra sobre Fidel e Che, que para mim é importante até do ponto de vista da minha investigação.
Se conseguir, retomar o estudo do nacionalismo branco em angola e da FUA, um auxiliar preciso no meu trabalho. Assim, como esta tese de doutoramento está muito bem feita, dedico-me, em exclusivo, ao nacionalismo africano, o que não é pouco.
Precisava de escrever outro tipo de texto... mas não consigo.
Reconheço a minha inteira incapacidade de fazer melhor.