sábado, 9 de maio de 2009

Angola 6

Já estamos em Maio... e se disser que começo a ter suadades das mordomias europeias?
A energia falhou, falta todos os dias e a bateria do computador está a esgotar-se.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Angola ---- 25 de Abril, ainda

No sábado comemoraram-se os 35 anos do 25 de Abril. É por demais comum dizer-se que os militares revoltosos libertaram Portugal das garras de uma ditadura de quase 50 anos. A liberdade foi restaurada e o MFA triunfante pode tentar levar a cabo os três D do seu programa essencial: Democratizar, Desenvolver e Descolonizar...
E a Descolonização chegou pelas mãos que carregaram armas contra os povos das colónias levantados contra o poder colonial português, naquilo que os movimentos de libertação angolanos denominação, nos inícios dos anos sessenta como a acção directa, ou seja a guerrilha.

O serão do dia 25 de Abril foi passado a ouvir Zeca Afonso. Emocionámo-nos com Grândola, vila morena, porque um dos ícones dessa Revolução. Muitos acreditámos (e teimosamente continuamos a querer acreditar) que em cada rosto víamos um amigo, que todos poderíamos vir a ser mais iguais e que a fraternidade se cumpriria num país sofrido e sofredor.

A páginas tantas, uma canção perdida nas nossas memórias tomava conta da sala. O ritmo africano (angolano, mais propriamente) era por demais evidente, na noite quente e abafada de Luanda.
Do ritmo musical passámos à procura da compreensão plena das palavras do Zeca. Falava então de um homem novo, de um novo país, do fim do colonialismo e do imperialismo...
Muito datado no tempo, aqui ficam as palavras do Zeca, relembradas na noite das comemorações do 35º aniversário do 25 de Abril, para muitos de nós, de todos os sonhos e utopias... e esta canção também foi uma delas:

I
Um homem novo
veio da mata
não é soldado de profissão
não é soldado de profissão
é guerrilheiro
na sua aldeia
a mãe o diz
de uma fazenda faz um país
de uma fazenda faz um país

Refrão

Colonialismo, não passará
Imperialismo, não passará
veio da mata
o homem novo do MPLA

II
A milha quente
vai despertando
darei ao mar
agora ou nunca, não há que errar
agora ou nunca, não há que errar
Foi em Fevereiro
no dia quatro sessenta e um
Angola existe, Povo há só um
Angola existe, Povo há só um

Refrão

III

A cor da pele
não é motivo para distinguir
Angola é nova, só há que unir
Angola é nova, só há que unir
Se novos povos
querem por trono no teu país
Dum guerrilheiro, faz um juiz
Dum guerrilheiro, faz um juiz

Refrão

IV

Olha o caminho da Polisário
do Zimbabwé
África toda, levanta-te
Àfrica toda, levanta-te
Se novos povos
querem por trono sobre o teu chão
por cada morto, nasce um irmão
por cada morto, nasce um irmão

Refrão


(nota: esta canção faz parte do último concerto ao vivo do Zeca no Coliseu de Lisboa)

Este novo país do que falava o Zeca, este homem novo que veio da mata têm de se reinventar, para que a democracia, a liberdade e a fraternidade não sejam palavras vãs.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril

Parece redundante, mas hoje só me apetece escrever:

25 de Abril, SEMPRE!...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Angola 5 (acho)

Continua a fazer muito calor.
O ar condicionado, onde estive metida na 3ª feira, fez-me não sei se alergia, se constipação... o que sei é que fungo, mas nada de especial, para além de estar picada pelos mosquitos, esperando que nenhum desses seres abjectos estivesse consporcado pelo virus do paludismo, pois é uma doença bué de chata... eu sei do que falo, pois já tive 10 por campo...

Há material de primeira água para a minha tese e, sobre isto, fico-me por aqui...
Uma coisa que me tem admirado muito, é a falta de cursos de História nas diversas Universidades Angolanas. O governo, nomeadamente a secretaria de estado do ensino superior, faz passar, em tempo de publicidade, indicações dos cursos ministrados nas várias universidades e, em nenhuma encontro a menção a uma licenciatura em História. Leio, sim, Ciências Políticas...
Mas a história desta nação tem de ser feita e com quem?
Deixo a questão no ar.... efectivamente pouca coisa tem sido produzida... mas era já tempo e tempo de reencontrámos as nossas histórias... acho piada falar-se muito da CPLP e não haver uma memória comum. Nada surge por acaso, ela é fruto de desenvolvimentos anteriores, de encontros e de muitos desencontros, de aproximações e de afastamentos, de lutas, de guerras, de negociações e de paz , mais ou menos conseguida, mais ou menos fantasiada. Será a História que nos toca a todos que poderá ajudar à compreensão dos dias de hoje e das relações que antigos colonizadores e ex-colonizadores actualmente tecem, não desligadas de um amor/ódio, de lembranças que magoam, que calam fundo e que fazem ainda sangue, porque os povos, como as pessoas, têm também memórias e são essas memórias que podem fazer com que os povos, as nações, como as pessoas, se consigam reencontrar consigo e com os outros, num mesmo plano, no plano de uma cidadania plena.
É isto que acontece?
Francamente acho que não e os tiques que opuseram povos e nações persistem, provocando nódoas que alastram no convívio do quotidiano.
Racismo primário surge de parte a parte, desconfianças são mais do que muitas...
Enquanto não conseguirmos, colectivamente, aceitar as nossas histórias e no muito que se tocam, sabendo que não são histórias heróicas, antes feitas por homens e mulheres que também erraram, porque viver o dia a dia não permite avaliações objectivas, antes exige a resolução do que é mais comezinho...
Nestas nossas histórias, que se transformam numa história comum, não há, para mim, heróis, santos, algozes e vítimas. Os homens e as mulheres que foram os actores deste drama tiveram um pouco de tudo... Contudo, o sistema colonial português e o regime ditatorial português, rumando contra os ventos da história, tornou-se inexoravelmente no grande responsável pelo que depois os povos tiveram de sofrer...
Sinceramente considero que é fundamental que todos, portugueses, angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdeanos e timorenses, nos reconciliemos com a História que nos é comum, não venerando-a estupida e acriticamente, mas compreendendo-a para, juntos se tal for possível, nos encontrarmos na Língua Portuguesa que não é monolítica, mas cheio dos matizes que a enriquece a a torna única.
Alguém me dizia, já aqui em Angola, que seria o cumprimento da pessoana profecia do 5º Império... prefiro antes rever-me no mesmo Pessoa e na minha pátria como a Língua Portuguesa, eu que, muitas vezes, não sei bem se tenho pátria e se quero como minha a pátria que aceitou o meu registo, quando ainda havia colónias, transvestidas em províncias ultramarinas para que a carta das nações unidas não pudesse ser cumprida por um governo que oprimia uma multiplicidade de gentes e de povos.
E hoje que é dia do livro, como é delicioso ler esta língua escrita por gente tão diferente e de forma tão diferentes, mas de uma maneira tão rica, criativa e inovadora...
Os meus maiores cumprimentos a todos aqueles que sem qualquer pudor tornam mais rica a pátria comum que é a Língua Portuguesa.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Angola 4

Neste diário inconsequente, que vou criando durante o tempo que estiver em Angola, faltam muitos dias e muitas páginas. Não que tenha perdido as páginas pois os dias, esses vivi-os, não sei se bem, se mal, se até à exaustão, se numa modorra dorminhoca... as páginas não perdidas foram simplesmente não escritas ... porque não me apeteceu, porque fazia muito calor a a minha capacidade de fazer alguma coisa estava reduzida ao mínimo ou, simplesmente, porque o google não abria e a net estava sempre a cair. Não, não era por falta de energia, que é intermitente e todos os dias tem de desaparecer, nem que seja por um bocadinho, para todos vermos como ela é importante... faltando a energia na rede, havia a do gerador mais ou menos barulhento e, na falta de combustível, a bateria do computador e o candeeiro a petróleo, para noite dentro ver as teclas das letras que se amontoam nestes textos desconexos.
Nada... tenho tido preguiça... preguiça de quase tudo... só me apetece ficar a modorrar, sem fazer nada, sem qualquer movimento, sem que o cérebro exprima algum pensamento ou alguma ideia mais elaborada... simplesmente parado.
Contudo, tenho lido alguma coisa.... o último romance do angolano Manuel Rui A Janela de Sónia , bem como um romance do José Rodrigues dos Santos, que cá encontrei, Codex 623, sobre as origens do Cristóvão Colombo. Reli Ondajki, esse menino fadado das letras angolanas. Será com Ondjaki que, voltando a Portugal e às minhas lides profissionais como professora, que começarei a falar às crianças de África e de Angola, a fim de dar cumprimento ao plano com que me candidatei à licença sabática.
Mais, aqui nunca poderemos planificar nada com uma margem mínima de segurança. Tinha tudo previsto e combinado para estar em Luanda esta segunda feira de manhã. Cerca das 9h, tudo se alterou. Para dar cumprimento ao previsto, tinha de ir, à pressa, arranjar um taxi-candongueiro... não arranjei, porque em abono da verdade, senti um medo incrível em enfrentar a estrada, conduzida por um desconhecido... Alguém faz ideia como cá se conduz? Só os que cá vivem. Contado é muito difícil... falta de confiança no outro? evidentemente. Toda a falta de confiança... e, depois como regressava? tenho de gaantir um mínimo de conforto, senão é tudo bué de difícil.
Então, escrevi vários emails e fiz allguns contactos que necessitava fazer.
De tarde, se não me der a inatividade total, von acabar de ler uma obra sobre Fidel e Che, que para mim é importante até do ponto de vista da minha investigação.
Se conseguir, retomar o estudo do nacionalismo branco em angola e da FUA, um auxiliar preciso no meu trabalho. Assim, como esta tese de doutoramento está muito bem feita, dedico-me, em exclusivo, ao nacionalismo africano, o que não é pouco.
Precisava de escrever outro tipo de texto... mas não consigo.
Reconheço a minha inteira incapacidade de fazer melhor.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Angola 3

Passaram-se 3 dias após o domingo de páscoa.
Está um calor de morrer... destilo por todos os poros. As picadelas dos mosquitos ardem... sinto-me completamente esbodegada...
África é dura... exige de nós tanto que a moleza instala-se...
Na madrugada de sábado para domingo, pelas 4 horas da manhã, "passeava-me" nas ruas de Luanda. Claro que não estava sozinha. Quase ninguém mas ruas, mas sons de festa um pouco por todo o lado... se tive medo? Nenhum... mas quem ia comigo - não revelo - riam-se e diziam que era um pouco arriscado... Um calor abafante... sem brisa alguma, sem um ventinho refrescante... só a quentura tórrida que na europa não temos ocasião de experimentar, nem naquelas tarde de Agosto em plena planície alentejana.

Não tenho nada de importante para dizer... se calhar tenho muito e não sei por onde começar, nem como começar... a modorra aperta...

Tenho lido muito, bué mesmo...
Tenho acompanhado em deferido das notícias da pátria e algumas vezes em directo as daqui.

Só sei que há crianças a morrer de malária e que esta doença continua a atacar sem que haja vacina que ponha termo a esta hecatombe...
Quando é que os grupos farmacêuticos, os laboratórios apostam em investigação credível que possibilite a descoberta da vacina para este mal endémico em África?

Eu sei que aqui está tudo por fazer em termos de educação e de saúde pública... é preciso um trabalho ciclópico ... mas " às crianças, senhor, porque lhes dais tanta dor, porque padecem assim!..."a falta da vacina enfraquece as pessoas. Ou será que, para o mundo, é bom que haja um continente doente, onde todos os males parecem acontecer!...

Na verdade hoje pareço muito desiludida... talvez esteja .... a vida é dura por aqui, este povo sofre ... talvez seja o calor que me deixa assim ... talvez seja a realidade que me cerca e a impossibilidade total de agir ... talvez tenha deixado de acreditar em utopias e tenha mergulhado na verdade do quotidiano ... talvez já nem consiga acredita no Yes We Can, mas sim, vivemos cada dia e cada dia temos de nos levantar para continuar vivendo...
Teimosamente gostaria que tudo fosse diferente e que toda a gente tivesse condições dignas de existência, o que, escrito no local onde estou, parece a máxima das utopias.

Fazer como? não sei... sou estrangeira neste país e não estou aqui em missão de beneficência, antes de estudiosa de uma realidade já passada ... mas sei ver ...

fico-me por aqui, nesta tarde quente, quente africana.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Angola 2

Hoje é o dia de quinta feira santa no calendário litúrgico do cristianismo.
A televisão está ligada e as reportagens de rua no canal 1 da TPA, para além do cumprimento do código de estrada que entrou em vigor no passado dia 1 do corrente e em tudo semelhante ao português, prendem-se com a celebração dos rituais da paixão e morte de Cristo, o tempo mais forte e emblemático das religiões cristãs, com o catolicismo a imprimir uma solenidade desconcertante.
Educada no seio da religião católica, tendo até sido aluna, durante vários anos, num colégio das irmãs doroteias, há muito que perdi (se é que alguma vez tive bem consubstanciada) a fé, esse dom, no dizer de alguns, não é dado a todos ou que nem todos têm a capacidade de vivenciar.
A minha fé, aquilo em que acredito, tem a ver com a capacidade dos seres humanos se regenerarem, de procurarem ser melhores e de contribuírem para que a vida do dia a dia seja menos desigual e com mais qualidade, se é que isso é possível e não a continuação de uma utopia. As minhas crenças, se possível, terão mais a ver com o Yes we can, ou o Yes I can, glosado até à exaustão e como tal uma palavra de ordem já desprovida da carga simbolicamente positiva que transportava quando pronunciada na campanha do Obama.
Porém, da exege católica retiro muitas vezes o conceito presente neste tempo forte da liturgia católica - a ressurreição. Não que eu acredite na ressurreição final e na vida que há-de vir, como se reza no Credo, mas na ressurreição de todos os dias, no levantar continuo e continuado, no caminho do calvário como uma prova de superação, na crucificação como um forma de aprendermos a ser melhores, mais fortes, mais íntegros (se tal é possível nesta sociedade amoral), mais humanos, no meio das nossas fraquezas e das quedas diárias, quando aquilo que realizamos fica muito aquém do projectado.
E a paixão de cristo, como paradigma do sofrimento, também nos ensina que a dor, as lágrimas, as dificuldades podem ajudarmos a crescer e a sermos melhores, para que os risos e os cânticos possam ser efectivamente sentido nesta festa que é a vida.
Talvez se agora estivesse na europa não escrevia o que estou a escrever.... mas o calor tórrido que me incomoda, os mosquitos que esta noite volteavam à volta da cama e me acordavam com os seus voos assassinos, o trânsito caótico de Luanda e arredores, enfim, todo este excesso, me levem a escrever um texto bem mais "religioso" do que pensaria fazer quando me sentei a acrescentar uma página a este meu inconsequente blog.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

De Angola

Angola 1



Estou em Luanda desde domingo ao entardecer... anoitecia sobre a baía quando o avião aterrou no aeroporto 4 de Fevereiro.

Falta a energia e o gerador entra em funções

Está um calor tórrido, tão tórrido que custa a aguentar.

A bateria do computador está com a carga esgotada e, às 15h30m é cedo ainda para ligar o gerador que faz barulho capaz de acordar um defunto.

Voltou a energia, como se diz por cá.
A ventoinha está ligada, pois não temos ar condicionado e vamos mudar de casa até ao fim do mês.
Por um lado ainda bem que estou cá para ajudar às mudanças...

Fiz um contacto para investigação que resultou em cheio. Aqui os contactos são fáceis... espero dar avanço no meu trabalho e trazer dados novos a partir de fontes que não estão estudadas.
Para lá disto, há a hipótese de uma conversa com familiares de ..... não digo e ter acesso a um acervo....

A investigação é minha... está no campo do sigilo... mais tarde divulgo...

A televisão está ligada (aqui só temos os dois canais de livre acesso, por opção) e num programa da tarde como alguns das televisões portuguesas, está a discutir-se a saúde reprodutiva da mulher.

Ah! estou a ler o último livro de Manuel Rui (Monteiro), a Janela de Sónia, começo de leitura difícil , xé!... mas vale a pena... é uma metáfora sobre o fim da guerra, da civil...

O o calor continua, dia e noite, noite e dia... mas é assim, África, uma África exuberante, obsessiva, de terra vermelha cor de sangue, de todo o sangue derramado por tantas gerações de pessoas... terra de verdes, do alaranjado do por do sol e do azul metal das águas do oceano deste lado de cá.
Lá, no oceano que banha a terra onde nasci e que não conheço, as águas são verdes, dizem as fotos, dizem as pessoas que lá espraiaram os olhos e experimentaram a calidez dessas águas do Índico...

E quando chegamos e abrimos as torneiras, a água jorra tão morna que pensamos em esquentadores escondidos... mas é o sol, o sol forte que aquece tudo e tudo deixa quase exangue...

quinta-feira, 19 de março de 2009

não tem

Não tenho escrito nada
O trabalho na Torre do Tombo tem-se ocupado grande parte do dia. Cerca de 8 horas de trabalho.
Depois não me apetece pensar.
Também gasto muito da noite a falar no gmail.
Acontece
É quase meia noite.
Estou cansada
Daqui a pouco mais de 15 dias estou a voar para Luanda.
Lá encetarei uma espécie de diário... serão as luandices ou angolices... logo se verá...

Ah! também meio todos os dias o blog do JUMENTO.
Foi o meu filho Pedro que me fez despelotar este hábito... e engraçado jumentar...

quarta-feira, 4 de março de 2009

Se á coisas que me irritam, uma delas é a cobardia do anonimato, a que se junta os telemóveis com números privados, a nova forma de dizer e escrever perfeitas aleivosias sem se ser detectado.
Pois muito bem. Pessoas minhas amigas, em cidades diferentes, estão a ser alvo desta gracinha inominável, herdada do tempo em que a inquisição "dulcificava" e submetia as consciências e os corpos. Ora esse tempo inquisitorial parece perene e não se esfuma desta maneira de ser e de estar portuguesinha e reles. Quando formalmente a inquisição foi extinta, permaneceram as catas anónimas, o disse que disse em surdina, sibilado por bocas infectas a ouvidos contaminados que reproduziam, sempre numa surdina bastante sonora, o que podia lesar, por em causa, denegrir a honorabilidade do comum cidadão...
Com ditadura esse ar inquisitorial atingiu outra vez o zénite, pois que o alfa nunca se tinha desvanecido... e ser informador anónimo passou a fazer parte do dia a dia de muita gente que, com denúncias anónimas, muitas vezes por pura malidecência ou ajuste de contas, davam literalmente cabo da vida de todos aqueles que lhes caíssem nas garras.
E esta maneira torpe de agir, de manipular as c0nsciências, de causar mal estar a terceiros, sabe-se lá porquê, por vingançazitas sórdidas, por despeito, pelo prazer de chatear, continua a grassar neste país, onde ser-se reles, mal educado, cobardolas, despeitado, invejoso faz parte desta herança atávica de ser-se português... também.
Sinceramente a mim custa-me ver gente que muito prezo, gente elegante, culta, respeitável, honesta, sensível, frontal a ser defrontada com telefonemas a coberto de números anónimos, bem com mensagem persecutórias, rascas, baixas, de um moralismo bacoco, sacrista de beatério farisaico.
Custa-me ver a falta de coragem, a cobardia de muitos que, sob a capa do annimato, se preocupam em dar cabo da vida de outros, nem que não seja, pelo medo velado que infundem, medo esse de não se saber a quem se deveria dar uma coça das antigas.... sim, porque gente que se assume, que não insinua sem mostrar a cara (ou o número do telemóvel) só merece uma coisa ---- as ventas partidas.
E eu não sou violenta e nem sequer acho que o murro seja a melhor forma de solucionar conflitos... mas há medidas para tudo.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Daqui a pouco estou a apanhar o autocarro para o Porto.
O dia está quente... um verdadeiro dia de uma primavera anunciada.

Os trabalhos estão prontos, encadernadados, prestes a serem entregues...
Comentado, comentado será hoje, na sessão de orientação, o plano da tese... o que terá de ser modificado, melhorado... não sei... esperamos para ver.

Depois de tantas páginas escritas, caí num marasmo indescritível... traçar umas linhas parece uma tarefa ciclópica.
E agora, assaltam-me todas as dúvidas e sinto que pus a fasquia bem alto, sem saber se lá vou chegar ou se o tema que estudo tem a relevância necessária... se, se, se ... assaltam-me todos os ses...

mas não há já caminho de retorno e tenho, por tudo, de seguir em frente. Até pela sabática...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

às quatro da tarde deste dia 18 de Fevereiro, estou completamente esvaída e o texto historiográfico por acabar... e eu em ter pressa de o dar por findo... não sei como resistir ao sol que brilha lá fora, quando na sala onde estou estou a trabalhar o frio de inverno ainda não se dissipou... começo a estar farta de tanto recolhimento... ninguém quer tomar um chá comigo... aqui em casa não, por favor, lá fora, de preferência numa esplanada?... é que este solitário chá de verbena que tenho em cima da mesa onde assentam também os computadores, apesar de quente tem um travo gélido...
mas alguém quer tomar um chá comigo e fale de outras coisas que não os movimentos de libertação e a guerra colonial em Angola?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Bacantes II

Bacantes II

Não havia um piano longo na sala escurecida
Nem o rapaz triste tocava no violino um melodia antiga
Era só um dia chuvoso num inverno frio e comprido
E o calor da lareira de canto ridiculamente de canto naquela sala com ar antiquado, piroso mesmo
Convidava a uma bebida mais demorada
uma bebida quente que deixasse marcas avermelhadas nos dedos longos despretensiosamente nus

Não estava vestida de lamé a que um comprido colar de pérolas conferia um ar remotamente distinto
Nem sequer o decote em bico deixava entrever o arredondado do seio moreno
Estava unicamente mergulhada na bebida fumegante
Sentada junto a uma lareira de canto numa sala antiquada de café de província

Não precisava do piano de cauda
Do copo de cristal com um vinho recomendado nas páginas das revistas mais exigentes
Do som triste do violino tocado pelo rapaz de olhar distante e comprometido
Não
Não precisava de nada para naquele momento
Encarnar uma deusa distantemente distanciada dos mortais
Que adoravam baco servindo-se de bacantes escravizadas.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

esquisito

o texto anterior ficou de duas cores.
deixá-lo.
fica assim
é uma coisa estúpida, mas fica assim

porque hoje é 14 de Fevereiro

hoje dia 14 de Fevereiro, no calendário litúrgico, dia de S. Valentim. Para um culto que denominarei como religio-profano, Valentim (não sei quem era, mas deve ter vivido nos primeiros séculos do cristianismo. podia fazer uma busca rápida e saber quem tinha sido, mas não me apetece de todo) é o patrono dos namorados, dos apaixonados, dos amantes, porque não.
nos meios de comunicação aparecem coisas lamechas sobre o assunto, que me deixam perdida de todo... não é preciso tanta merdice para o acto de amar... é que apesar da crise horrorosa em que estamos todos mergulhados, este dia ainda pode ser benéfico para o comércio, das floristas, das pastelarias, dos supermercados..., las lojitas de generalidade e peluches, não sei como se chamam...
Uma coisa que me está a irritar é estar e escrever sobre uma lista amarela que não me abandona nem por nada. quase como um sorriso sarcástico: pois, pois, estás assim, porque estás sozinha.
Está bem, a pessoa que compartilha a vida comigo, compartilha-a de muito longe a sete mil quilómetros de distância, mais coisa menos quilómetro. O Oceano Atlântico e meia África estão de permeio. Eu sei, mas não foi a solidão consentida que me fez olhar com desprezo para estas comemorações (agora também se comemora tudo pelo que nada tem já significado. é o preço da banalização). Aliás, este romantismo bacoco de centro comercial causa-me alergia. Não que não goste que me ofereçam flores, gosto e até gosto de flores naturais nas jarras, mas nunca num dia de um valentim santo... e terá sido elevado ao altares por ter amado muito?
responda quem sabe.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

nada de importante

os dias correm e o texto nunca mais termina.
A documentação é muita... há que escolher e não repetir ideias nos vários itens.
estou cansada, com a cabeça oca e sem vontade de pensar.
quero aterrar no sofá com um até amanhã
pode ser que amanhã apareça com outra vontade e outras ideias...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

sobre a saudade

Hoje, ao fim da tarde a G enviou-me um mail. um power point com o título saudade e escrevia que não suportaria (sic).
Não costumo ligar muito, mesmo nada, a essas coisas que circulam pela net e inundam as nossas caixas de correio (apetece-me chamar assim). Às vezes surgem paisagens belíssimas, outras vezes coisitas que pretendem ter graça, outras sexualmente desprezíveis, para não falar do que hoje não me apetece falar e por isso não vou referir...
Mas hoje a G, mandou-me aquele mail... confesso que fiquei tocada. lamechamente tocada, com um aperto no coração e os olhos quase rasos de lágrimas... o título estava a meu ver mal escolhido.
O texto e as imagens sugestivamente a preto e branco eram sobre perdas, as perdas que vamos coleccionando ao longo da vida, outras vidas que se afastaram inexoravelmente e a facilidade com que deixamos que os outros, aqueles outros que estiveram tão perto, partam para sempre, sem terem colocado um ponto final, se desvaneçam, restando unicamente em fotografias já gastas. e não me refiro aos mortos, àqueles que partiram para o não regresso. referi-me a todos aqueles que compartilhando as nossas vidas, delas saíram sem fecharem totalmente a porta. Onde estão agora? Não sabemos, como também não sabemos como haveremos de reatar o nó fatalmente desapertado.
Já tanta gente se cruzou connosco, mas só com alguma fomos felizes, ou até infelizes, até sofredores, mas de um sofrimento que alimenta, que faz crescer.
Já tanta gente passou por nós e nós não demos conta, não porque estivéssemos distraídos, mas aquela não era a nossa gente, porque de entre tanta gente que connosco se cruza, só uma parte ínfima passa a ser nossa.
E a perda diz respeito a essa imensa minoria que nos animou a vida, que nos ajudou a ser o que somos. Onde está ela?
No baú das memórias que entreabrimos quando a solidão dos dias é por demais pesada.
Também se vive de recordações e a sabedoria consiste em ter saudade do que nos fez feliz sem ficar irremediavelmente preso a esses momentos irreptíveis, mas ter força e coragem para fazer de mais momentos esses momentos únicos.

A todos os meus amigos, estejam onde estiverem, obrigada por me deixarem fazer parte das vossas vidas...

Há dias assim, nostálgicos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

não quero título

o dia amanheceu com sol e com sol esteve até ao final do dia que adormeceu frio, o que é normal em fevereiro.
mas não é sobre o tempo que quero falar... nem sei bem sobre quê... não quero falar sobre a tia manela do psd que, como não tem qualquer projecto, antes a maledicência duma direita caceteira (também há maledicência à esquerda, eu sei, mas dessa falarei noutra altura, aliás já a abordei... e eu não sou do PS, para que conste). Dizia eu que a tia manela veio cheia de pompa e circunstância a meia tarde, mais ou menos na hora do five o'clok tea, anunciar, em directo e nos canais por cabo, a realização de um fórum itinerante que denominou Portugal qualquer coisa de verdade... dogmatismo do caraças! então, vivemos num país virtual é? não sentimos todos os dias as dificuldades do momento? Eu por acaso até sou privilegiada, por acaso não sinto, mas sei o que se está a passar por esse país fora, por esse mundo fora...
a senhora não tem qualquer ideia naquela cabeça... só números e mesmo assim não sei se bem certos.
eu sei que não gosto nada da tia manela... como ministra da educação, que bem conheci, era um susto, para além de teimosa, cínica, impertinente, rasando a má-educação e, além do mais, completamente incompetente relativamente às escolas e à educação. um horror... também estava ali a fazer o trabalho sujo que o cavaco lhe mandou fazer ... coitada da senhora, presta-se a cada figurinha. e agora que já é quase septuagenária, mete dó... e é isto e outros assim que são a reserva moral laranjinha? está bem... prefiro a depravação a esta beatice parola.
bem o fórum será itinerante. pode ser que depois de muitas sessões com militantes de base, a senhora, lá quase a rasar o outono, tenha compilado dados para a escrita do seu projecto, do projecto com que se vai apresentar as eleições. será, ou sucumbirá às mandíbulas de alguns tubarões do partido que pensa coordenar? liderar é que não.
sobra, até ver, o Pedro Passos Coelho. é jovem, bonito, bem parecido, com uma voz de morrer... fica optimamente na fotografia... mas as ideias que defende são próprias destes tempos de crise e de cortes epistemológicos com o modelo passado? o neoliberalismo já foi e ainda não foi encontrado o novo modelo estruturante.... andamos todos, mas todos, a experimenciá-lo... logo, quando contiver já elementos da destruição, aparecerão reflexões profundas, tratados sobre... enfim... vivemos num paradigma com estruturas explicativas de um outro que já falhou... e o pedro, onde se posiciona? gostava de saber já que acredito que a tia não tem nem capacidade, nem sabedoria para ter qualquer posição sobre a coisa
disse.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

agora é sobre escolas

Sempre gostaria que alguém me explicasse porque é que uma porcaria de uma reunião de DT se prolonga por mais de três hora?
Os assuntos são quase sempre os mesmos, então quando as reuniões intercalares, os ... esqueci-
-me do nome, os planos de recuperação e os planos de acompanhamento, queria dizer, já fazem parte do dia a dia de um dt e de um professor que não seja dt.
Eu já fui coordenadora dos DT (este ano a sabática dá-me umas férias bestiais dessas coisas das escolas) e, caramba, com gente experiente como aquela, com documentos internos que funcionavam, com uma ordem de trabalhos gerida com algum jeito, os dt estavam no remanso do lar e a jantar com as famílias (se vivessem perto), no máximo por volta das 20h30m.
Mesmo tendo o nariz empinado, metaforicamente falando, fama de ser mandona e muito, como dizer quando se dirige alguma coisa, no caso uma reunião, com mão assim um pouco férrea, os coleguinhas têm saudades minhas... pelo menos alguns, que eu sei.
Ora, dirigir uma reunião com um plano bem definido, não deixando que o diálogo divirja para outros caminhos que não o planificado, é o que tem de ser feito se se quer que as coisas avancem e não continuar no registo genuinamente português de enrolar, enrolar, enrolar, falar de pormenores e de formalismo para não se ir à essência das coisas, à verdadeira resolução dos problemas e ao acerto das medidas que devem ser tomadas.
Pois muito bem, e assim passam os professores horas e horas nas escolas. Têm razão quando se queixam, mas devem ser eles (nós, que eu também faço parte da confraria) a procurar que as coisas sejam mais céleres, mas não menos eficazes, muito pelo contrário, porque muito mais inteligentes.
Disse
por hoje
ufa

domingo, 8 de fevereiro de 2009

é domingo

Já estamos em tarde de domingo, dum domingo frio de Fevereiro, com muito nevoeiro e ameaça de chuva.
Precisávamos de sol , dum sol como o de ontem, gélido, mas brilhante, nesta cor pálida e intensa de Inverno.
Ora bem
Ontem e hoje o BE está em convenção... o são francisquinhos das esquerdas será novamente entronizado no altar laico da dita "esquerda revolucionária". Não tenho nada contra ela. também foi o meu poiso e, francamente, não sei se ainda é. Tem dias, tem aspectos, tem estratégias, tem formas de pensar... mas o BE cresceu depressa de mais (há dez anos o slogan era "o que é pequeno cresce...), envelheceu depressa de mais... institucionalizou-se tão instititucionalizado que tem tiques de um partido antigo... também a matriz é velha, anquilosada, o estalinismo não desapareceu de todo. Nem podia desarvorar... faz parte da genética da sua fundação, ou pelo menos de parte desses fundadores...
Eu não gosto do Louçã, ponto! não me convence, ponto! nunca me convenceu! não gosto daquela postura hierática, dum moralismo entediante, não fora de moda, mas entediante, muito glosado numa direita reaccionária e oportunista saudosista do ditador de sta comba dão, aqui desta beira alta onde habito.
Não gosto, ponto e nem sei se as questoes ditas fracturantes, são assim tão fracturantes (nome horrososo, a lembrar talas, gesso e muletas), ou fruto da lenta progressão das mentalidades, que não são nem de esquerda, nem de direita. são da vida.
Não gosto da direita reaccionária, beata, falsamente modesta, falsamente ordeira, falsamente moralista. Não gosto mesmo nada. Deixando marcas neste país de funcionarite aguda e de cunhas e cunhinhas para tudo e para nada, quer armar-se em pura virgem escandalizada...
Gosto a esquerda, gosto... mas duma esquerda bem mais libertária que a que está a fazer escola no BE.
Adiante...
Há gente constipada, com tosse, febre, espirros, a que um xarope de cenoura e um ponche quente com mel e pingos de limão estava mesmo a calhar.
Há gente a trabalhar, naquilo que lhe dá gosto, um gosto pleno.
Há gente a ter de trabalhar e a não conseguir
Há gente a querer trabalhar e a não poder porque o capitalismo diabólico das últimas décadas deu cabo de tudo (explicação mais do que primária, mas hoje não estou disposta a mais) para que bolsos dessa outra direita muito fina e urbana pudesse ficar cheios e cheios do suor dos outros fazer aplicações em negócios que nunca ninguém compreendeu, nem ela própria, tal era a pirâmide de imbecilidades que forjou.
Agora, nesta época de crise, pode ser que consigamos fazer da vida uma outra coisa...

E neste domingo frio e cinzento, vou preguiçar (jiboiar, dizem em Angola) para amanhã, num dia igual a este frio e cinzento, conseguir escrever o texto que me ocupa os dias.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

sobre a inspiração

Diziam-me à bocado que os grandes compositores escreveram grandes obras em estados de grande exaltação do amor ou de amores não concretizados, simplesmente idealizados em que a coisa amada era ou estava inacessível. Beethoven foi um desses compositores..
Talvez ... quem sou eu para duvidar
De certo modo a inspiração, para qualquer coisa que seja necessária, comporta uma grande dose de emoção, de adesão àquilo que se transformará num objecto, o que não se passa somente com os compositores.
Pessoa dizia que o poeta é fingindor, fingindo uma dor que sem ser sua, sua passa a ser. O Poeta não escreveu bem assim, mas a ideia é esta. Daí que eu tenha para mim que a dor dos outros (mas também o êxtase, a felicidade, a revolta, o choro e o riso) pode também ser minha e a partir dela, sem que directamente a sentisse, sentindo-a verdadeiramente, a transfiguraria num objecto que, por acaso, utiliza as palavras como suporte
No fim de contas será este estádio híbrido, misticamente indefinido, entre a razoabilidade e a emotividade que nos faz acordar todos os dias e todos os dias, inspirados ou não, fazer da vida esse acto único que é o acto de viver... e, por vezes, tão difícil que é.... dá gozo, prazer, raiva e alegria... produz encontros e desencontros, gargalhadas e lágrimas, abraços e encontrões... é exuberância e angústia, amor e ódio... mas é a vida vivida, mesmo quando aterramos no fundo de um sofá cansado e, quase inertes, deixamos passar os minutos que se transformam em horas de uma preguiça displicente, porque também é tão bom não cumprir um dever...
Mas o dever parece que me estar a chamar para outros caminhos e outras inspirações que não este de escrever num blogue com o título proocadoramente contraditório eva contra maria.
Não, não estou a ser a maria diligente, antes a eva rebelde que da rebeldia faz o estandarte da escrita.
disse

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

sem título

mudei de poiso e o jazz emudeceu. esqueci-me de substituir o cd.
vi, de passagem, alguns flashes de notícias.
o Obama está a ter dificuldade em constituir equipa e tudo por razões de fiscalidade incumprida. Afinal não era só cá que todos os que podiam fugiam ao fisco. as obrigações que cada um, como cidadão tem de cumprir, são de aplaudir e de defender quando aplicadas ao outro, o outro que ao nosso lado tem de ter um comportamento irrepreensível, não eu, e então o eu que pertence ao clã dos vencedores, à nata dos dirigentes ou potenciais dirigentes, pode ser um relapso, aliás faz bem ser relapso ... o estado social faz-se com os outros, não comigo, não comigo, não comigo... mas eu sou um sério e honorável cidadão ... o pior é quando as coisas passam para o domínio público e uma vaga de moralidade varre a sociedade. não cá, lá, no país que elegeu o Obama com risos e lágrimas nos olhos da utopia quase realizada. Pois, mas o dia a dia é difícil e os heróis são gigantes de pés de barro...
aqui, o helder do cds, que vive cá no meu burgo e aqui deu os seus primeiros passos políticos, daí que ser do cds é normalíssimo, mas também podia ser laranjita, falou da coligação do cds ( a propósito, perdeu o PP. já não é popular e o paulinho deixou de se perfumar pelos aromas das feiras, mercados e bancas do país?) com o psd para a câmara da capital do "império" perdido e bem perdido, só tardou pela demora... também se tivesse sido antes, perdia o tema da minha tese de doutoramento. está bem, é preciso ser-se masoquista e voltar ao sítio onde não se foi assim tão feliz... mas a vertigem do poder é tão grande que os mesmos, sempre os mesmos, mais velhos, cheios de brancas e pés de galinha, gaguejando já um discurso estafado, poem-se em bicos dos pés para que os holofotes das luzes da ribalta ( e que ribalta? pastosa, pantanosa, fétida) lhes ilumine os rostos cansados, porque a mente há muito que caducou.
dá até ideia que eu abomino a política e tenho essa ideia bem portuguesinha e rasteira que a política é uma coisa horrosa, suja e que, segundo o bom jargão do salazarismo "a minha políticaé o trabalho", uma máxima óptima num tempo em que a discussão e a divergência não era permitida... contudo discutias-se a havia quem achasse a política e a luta de resistência uma causa nobre.
pois é, mas eu gosto de polítca e muito. a minha tese é de história política.
mas política com P maiúsculo, a política ligada à dignificação da coisa pública, do bem comum, da responsabilidade e da co-responsabilidade, da subsidariedade. a política séria, mas alegre porque a alegria faz parte da vida e das utopias.
abomino a rasteirice, o golpe baixo, a discussão de trivialidades e de formalismos bacocos...
mas é assim
despedimentos, despedimentos, desempregos, falências... eu tenho uma ideia sobre isto.. um destes dias escrevo a minha opinião, e no parlamento discussões que me parecem estéreis, as imagens que os meios de comunicação emitem a isso levam a crer. de propósito... acho que sim... é a teoria da conspiração... talvez, mas que em política se conspira, disso não tenho dúvida nenhuma. por isso, yes we can't.
está a começar a trovejar neste inverno inclemente

não quero título

sei que é cedo ainda.
Passam 23 minutos, mais coisa menos coisa, das cinco da tarde.
seriam horas de um chá, de preferência verde, na medida certa de um bule para dois. mas não é. e apesar de ainda ser cedo, estou a bebericar (é assim que se diz, bebendo em pequenos goles,tragos de passarinho?) um licor de café que encontrei perdido entre as garrafas arrumadas em prateleiras esquecidas. está frio e chove, esta chuva incessante que não nos abandona mais. ouço jazz enquanto escrevo. não este texto bloguiano (não sei se existe este termo, mas passa a existir no meu léxico, mas o dito texto historiográfico muito sério, entremeado por uma escrita em bate papo de gmail. evidentemente que nada saiu prejudicado, nem o texto sério e muito menos a ligeireza do bate papo. ah! o tm tocou umas quantas vezes e as mensagens chegaram também...são as novas tecnologias... às vezes pergunto-me como seria o escritório do jacinto do 203 dos Champs Elisées, paris, o jacintinho de Tormes, se em vez de habitar o século XIX e ser um dandy, fosse um metrossexual destes inícios do século XXI...
pois é...
hoje não li jornais, nem dei muita atenção às notícias... tenho pouco a comentar... se calhr muito, mas não me está a apetecer, por agora.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

a propósito de nada

Passa pouco das 14 horas de mais um dia chuvoso e frio deste inverno inclemente.
Janeiro j+a se foi e Fevereiro começou cinzento e triste.
Triste sobre todos os aspectos. O número de desempregados aumenta a um ritmo alucinante, as empresa desmoronam-se pior que baralhos de cartas em equilíbrio instável, a cimeira de davos não deu em nada (mas em que daria uma reunião que foi pensada no tempo do hiperliberalismo financeiro e económico e quando alguns pensavam que o modelo de desenvolvimento(?)e de organização ocidental, aquele eixo américa do norte/europa da CE, se alcatroaria em paradigma dominante e todos seriam mais felizes, mais ricos, mais "democratas" e quiçá mais gordos!),o encontro em Belém, no Brasil, também redundou em coisa nenhuma e o Obama não conseguiu convencer os republicanos da correcção das suas propostas (isto de tentar conciliar o irreconciliável, é bonito, é corajoso, mas nem sempre eficaz... possivelmente nem todos partilham do yes we can e as utopias, porque utopias mesmo, são louváveis quando proclamadas, nas caem pela base quando passam para a prática... mesmo assim continuo a acreditar no Obama e na sua força... não acredito é nas intenções dos outros e na politiquice mesquinha que grassa por todo o lado).
Este fevereiro amanheceu triste, não por culpa própria,é inverno, mas porque este verdete que nos tolhe trás ao de cima as coisas mais reles e mesquinhas do ser humano, muitas vezes transvestidas em arrobos de moralidade duvidosa.
Definitivamente estou farta do caso freeport, do presidente da republica, do pgr,da oposição que é frouxa e pouco inteligente, toda ela, toda ela, dos jornalistas histéricos, dos que fazem a opinião e manipulam as mentes dos maus incautos, daqueles que ainda dão algumas importância a essas parcas negras, mas também de um governo que tem sobre si e sobre o seu líder a espada de demóstenes.
Por favor! não me encharquem a caixa de mensagens como coisas de professores,pardalecos piu-piu, nem de cenas mais ou menos explícitas de sexo. Ó minhas amigas! eu a excêntrica fico completamente banzada com as porcarias que vos ocupam minutos dos dias e com o riso alarve que vislumbro nos vossos lábios artisticamente pintado cada vez que uma pilinha ou uns tintins, ou um viril rabo musculoso irrompe pelo ecran do pc. Tende paciência, mas não tenho pachorra para tal...
E nestes dias tristes, de trabalho solitário, de escrita historiográfica ao som de jazz (neste momento é Bessie Smith),sinto a falta do sol e de notícias um pouco mais felizes, o que, pressinto, é de todo impossível.
Mas, pela vida é que vamos... andemos então, não sei para onde...mas andemos

sábado, 31 de janeiro de 2009

adenda

O texto anterior foi tão escrito ao correr da pena, publiquei-o tão de repentemente que não o revi, pelo que há frases com pouco nexo e ideias incompletas... pena... tenho de ter muito mais cuidado e não ser assim tão apressadinha. disse

sem título... para quê das etiquetas ao que vai surgindo

Estive quase todo o dia, com três incursões à pastelaria aqui do bairro, naquela escrita histpriográfica de que falava noutro dia.
Não sei o que se tem passado no país. se o caso freeport já teve mais desenvolvimentos, se em gaza cairam mais bombas lançadas pelos israelitas, hoje os tribunais estão fechados, por isso não há casa pis, nem esmeranda porto, nem a pequena joana algarvia ou a mãe cipriano. O marinho pinto não veio vociferar como justiceiro dos tempos modernos. não sei onde esteve o sócrates, o cavaco, o paulinho do cds, a tia manela, o jerómino ou o são francisquinho das esquerda. Não sei nada de nada. Não li o expresso, esqueci-me de comprar a tempo e horas o número 1000 do JL e já não o encontrei. Por hábito, desfolhei o público e li o editorial do jmfernandes e só ao fim consegui descortinar aquela pluma era desse outros justiceiro moralista ao serviço do tio belmiro. Fiz as palavras cruzadas, as simples e as complicadas, isto é, as com as marquinhas pretas e as outras, sem serem maculadas... Escrevi ao som de jazz e de blues... mandei uns emails, recebi outros e descobri que estou completamente desfazada de tudo. Este ano de sabática têm-me colocado numa redoma tal que há coisas que passam muito para lá de mim. Não sabia que as salas de professores também podiam se assim como uma espécie de tendas de ciganos, assim como uma feira de terça feira lá da cidade onde habitualmente resido. Mas parece que também é. Ora, as pessoas têm de fazer pela vida e a economia paralela é que alimenta esta coisa toda, não são os freeports e isso.
Pois é...desliguei o pc onde escrevo esse "fabuloso" texto historiográfico - não, não digo sobre que é - e, nesta solitária noite de sábado, ventosa e quase diluviana, tenho dois livros abertos, para lá daqueles que são fundamentais à escrita que tenho em mãos. Um de Luandino Vieira, escrita difícil, che! difícil mesmo! E fala do bairros dos Ingonbotas, do Quinaxixe, do muculusso... e o mercado do quinaxixe, essa pérola do modernismo português, só resta um buraco naquela esburacada cidade de Luanda, que se regenera, não sei se da melhor forma...Luanda, de terra vermelha, de clima inóspito, difícil... decrépita, suja, malcheirosa, mas fascinante. Eu gosto de coisas degradadas, das partes velhas, sombrias e em ruínas das cidades... têm patine, história, choros e risos, nascimentos e mortes, muito sexo... é só ver para lá das paredes que se desmoronam... Luanda tem mais do que isto, tem gente, muita gente, barulho, muito barulho,um trânsito isuportavelmente caótico, odores, milhares de odores que se entrechocam num ar poluído. E tem quilómetros de musseques, onde a vida vive no limite dos limites da sobrevivência ao lado da opulência mais abjecta, porque para uns terem tudo, os outros sobrevivem não sobrevivendo.
Sim, sim, o outro livro, uma obra do Francisco José Viegas, a morte no estádio, por acaso. É uma releitura... o homem escreve!... e aquele segundo ou terceiro capítulo sobre as relações amorosas ou não, carnais, isso sim, bela prosa dum erotismo elegante no meio de um livro que é muito mais do que um policial. O homem tem uma pena!... vale a pena ser lido, relido, sublinhado, saboreado... ´dá prazer ler páginas muito bem escritas, quando agora, todo o fiel farrapo é, ou quer ser, escritor e tem coisa publicadas.
Poesia não tenho lido, não...
Tenho a alma gelada, não sei se deste inverno que tem sido muito mais rigoroso do que em anos anteriores, se é deste estado de solidão em que me encontro mergulhada, se é da vida...
Não me apetece de todo ver notícias, falar sobre política, ter tiradas mais ou menos moralistas... é estúpido. Também deixo a política para a história que estudo e tento produzir... as coisas dos dias de hoje entendiam-me. Nesta globalização insana, não sei o que irá acontecer... desemprego em flecha ascendente, falência numa progressão geométrica, os lideres (nem os que não o são e pensam sê-lo,bem como os comuns dos mortais) sem perceberem como dar volta á situação. Nem o yes we can berrado por todos ao mesmo tempo nos conseguirá tirar do atoleiro a que três décadas de políticas neoliberais nos atiraram. Os velhos culpados de tudo isto hão-de passar à história como os que implementaram um modelo egoísta, pseudo meritocrático, irracional, explorador, o capitalismo levado ao terror, à cobiça, à irresponsabilidade, aos golpes mais baixos, tudo concretizado por gente muito digna, muito responsável, honorável até. Pois é, os nosso freeport, bcp, bpp, aquela sociedade de que o dias loureiro foi admistrador e até o sr presidente da cidade onde moro habitualmente, são meninos de coro, mero aprendizes de feiticeiros ao pé destes magos da embustice, da rapinagem, enfim, deste capitalismo feroz e selvagem que deveria ser copiado e exportado para todo o lado. Diziam esses "iluminados" dos neocon de má memórias. Agora que estamos todosa muito mais pobres, mas vivendo a realidade nua e crua, o que vai acontecer? Sou historiadora, ou pretendo ser, vá, não adivinha... as crises permitem a alteração de paradigmas. E esta?
ão

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

rosa tatuada

Tinha uma rosa tatuada
Na virilha
Num sítio íntimo do beijo
Com íntima era a luta entre corpos

Vestia de preto
Num registo antigo
Mitenes rendados
Blusas de folhos subtilmente transparentes
E enfeitava-se de pérolas

As mãos esguias
Seguravam a boquilha eternamente apagada
E afagavam uma caneta de aparo e tinta permanente
Que riscava a sépia
Num caderno de capas dum couro manuseado

Sentava-se numa mesa isolada
No fundo do café
A que um espelho de cristal conferia a amplidão
Que não possuía
Encostava o ombro seminu
Ao vidro que dava para a rua
Parecendo um peixe estranho
Num aquário bisbilhoteiro

Esquisitamente
Bebia cálices de absinto azuladamente definido
E deixava que um olhar quente
Porque quente era a cor dos olhos grandes
Se perdesse na multidão que apressadamente
Calcava as pedras gastas do passeio

E tinha a rosa tatuada na virilha
Como também um escorpião na omoplata
Bicho fero e matador
Como matadoras eram as gargalhadas que soltava
Ao fim da noite
Quando as camas arrefecem
E os lençóis enrolados e sujos
Repousam de combates sempre desiguais.

Um solitário brinco
Pendia-lhe da orelha esquerda
Que afagava num gesto perdido
Sempre que uma música divinamente antiga
Interrompia pensamentos distantes
Contaminando o corpo parado
Como o raio que se descarrega
Depois dos beijos terem exaustivamente consumido
Os corpos ainda pálidos
À luz da manhã

E a rosa tatuada
Empalidecia ao mesmo tempo que uma gota de seiva vermelha
Tocava o lençol branco
Quando o dia não despertado
Deixava vazia a cadeira encostada
Ao vidro do café de sempre

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Bacantes I

Não é da chuva que cai incessantemente há mais de uma semana
Que me obriga a ficar
Quieta no sofá decrépito
Onde o corpo cansado já fez cova

Não
Precisamos de cantar a vida
Beber até ao fim a taça de vinho antigo
Que repousava em pipas de carvalho francês
No remanso da adega fria

Precisávamos de cantar a vida
E deitadas em pianos de cauda
Com vestidos de lamé fora de moda
Beber da taça inebriante
Enquanto a música debita acordes
Que já não ouvimos
E um último cigarro estremece na boquilha longa

Como longa é esta espera
Da consumação dos dias
Escritos à medida dum tempo que não compreendemos
Mas é nosso
Irremediavelmente nosso
Como nosso é este corpo que carregamos
E que já sem ser primaveril
Palpita e se abre a experiências novas
Que novas podem ser as mãos que afagam
Que magoam
Que o percorrem docemente
Ou num frenesim
Como se essa fosse a última vez
Que os dedos se enlaçavam.

Precisamos pois de cantar a vida
E do vinho fazer sangue seiva sémen
Percorrer as escalas todas de uma melodia esquecida
Sinfonia ou requiem pouco importa
Mas percorrer as margens do tempo que nos falta
Num riso feliz de criança traquina
Bacantes


Ainda te lembras…
Éramos duas musas
Naquela sala antiga de sisudos rodapés de madeira escura até meio de uma parede completada por um damasco cardinalício
Havia um piano
Um piano de cauda
E também parece-me um violino
Trabalhado por um rapaz tristemente tímido

Tocava-se Bach Brhams ou Beethoven
Não sei bem
Sei que os sons antigos
Ecoavam naquela sala imensa e séria

Em cima do piano
Uma garrafa de cristal estranhamente desenhada
(eram sátiros e musas em cabriolas inenarráveis)
Permitia adivinhar a cor rubi de um vinho envelhecido
(seria vintage, reserva especial … que interessa agora)

A música definitivamente antiga
Continuava a soar naquelas paredes surdas
E o vinho em cima do piano convidava à volúpia

Lembras-te
Quando num ápice não calculado
Aliviámos mais o decote que generosamente nos moldava o busto
E
Deixámos escorrer por entre os seios fermentes
Gota a gota
Pinga a pinga
Lágrimas de rubi
Antes transvazadas para copos de pé alto

A música acelerou
Como que tomada por um frenesim incompreensível
Batendo raivosamente nas paredes daquela sala séria
Que agora se abriam como corpo de mulher
Ao enlace quente de amante

Então
Peguei muito livro muito manuseado
E chorei sobre o poema que de mansinho
Escorria dos meus lábios pálidos
Abraçaste-me
E a vida ficou suspensa
Com a música calando-se naquela sala antiga de paredes sisudas
Numa tarde quente
De inverno tardio.
Lembranças


lembras-te quando os dias ainda corriam calmos
e era possível o entrelaçar dos dedos?

era já inverno
mas o calor deixava que entreabrisse o decote
e o peito se agitasse a um ritmo tropical.

n café de todos os dias
esperava um cinzeiro
cama última de cigarros esquecidos
na voragem das palavras que atrapalhavam a boca.

eram tempos de dias calmamente agitados
mas de uma feliz agitação irresponsavelmente vivida

contávamos os minutos
sentados em cadeiras estranhas
e com os olhos devorávamos lábios
que pronunciavam frases indizíveis.

eram tempos de sobressalto
e também de angústias e de medos pressentidos
mas gloriosamente ignorados.

agora
que a penumbra ensombra os dias claros
e o sobressalto dá lugar a uma tristeza inaudível

percorro os lugares de sempre
na inquietação dum retorno impossível.
desencontro



na esquina do tempo
os corpos abandonados contorciam-se
em rituais perdidos
a que outros corpos mais abandonados ainda
aqueciam numa fogueira que
há muito
perdera a chama e o fulgor

na esquina do tempo
os lábios pálidos de bocas exangues
perdiam palavras
e esqueciam beijos
porque os beijos povoavam agora
outras esquinas de tempos mais presentes

na esquina do tempo
as mãos nervosamente esguias
enlaçavam corpos que se abandonavam a rituais perdidos
sugados por bocas de lábios exangue
que encontravam beijos em esquinas mais presentes
Solidão … talvez


A solidão toma conta das coisas
Envolve-as num manto diáfano
São como manhãs de nevoeiro cerrado
Quando não se vislumbram dois passos do passeado
A solidão é também assim
Envolve tudo e a vida fica mais longínqua
Como as tardes quentes de verão em que
Crianças ainda subíamos às macieiras e mesmo
Com os joelhos esfolados e o sangue a pingar perna abaixo até á sola das sandálias descascada
Trincávamos maçãs vermelhas cheias de pó e prenhes do calor do sol
Bem nos diziam que ficávamos doentes
Mas o riso era mais forte do que o medo.

Essas tardes estão tão longe
Como os finais da manhã na praia ventosa
Quando depois de um violento banho de mar
Com as ondas chicoteando as pernas adolescentes, as coxas que se torneavam
As ancas que começavam a sentir o prazer do rebolado
E o peito que despontava direito num fato de banho demasiadamente infantil
Nessas manhãs, o pão com manteiga a que a areia soprada punha um travo especial
Ou a bola de berlim escorrendo um creme mais parecido com o sémen que desconhecíamos
Ou então ainda
As batatas fritas em azeite requentadamente excitante
Deixavam-nos no zénite do prazer
Acreditando que a vida tinha o odor dos dias claros

Mas a solidão
Veste tudo com um manto transparente das coisas esquecidas que
Ao alcance de uma mão
Não podem ser agarradas uma segunda vez.
O nevoeiro
Esse pinta-nos os olhos de cores difusas
E a maçã trincada no ramo mais agreste da macieira carcomida
Baralha-se com o creme escorrendo da bola de berlim
E o sangue pingando dum joelho esfolado
Tinge de vermelho a onda gigante que chicoteava um corpo adolescente
Palpitando de mulher sem ainda o saber

Os dias felizes dum tempo inconsciente
Transformam-se em lembranças solitárias duma idade de ouro
Nunca consentida
Porque nessa época de sonho e riso
Por mais lágrimas choradas e joelhos feridos
Não se imaginava que num sofá estafado e seco
A solidão levasse ao zapping contínuo de programas não vistos
Ou ao tocar contínuo de um teclado de computador
Não para reencontrar esses primeiros dias
Os dias da descoberta da inquietação e da calma
Mas para abafar a saudade dum tempo
A que não se quer voltar

E os fiapos do nevoeiro
Envolvendo as coisas, os objectos, os seres
Amaciam a solidão solitariamente vivida
Pondo um sorriso antigo em lábios que aprenderam o não o sim o talvez
Mas também o sempre e o nunca
Pondo um sorriso antigo nuns lábios que beijando mordem
E mordendo beijam
No desespero de dias
Que se perderam e não voltam
Porque não sabem nem querem aprender
O caminho do regresso.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

decididamente

decididamente hoje o texto académico não sai.
escrevi algumas coisas, mas tenho o espírito demasiadamente ocupado para conseguir produzir um discurso coerente e cientificamente relevante.
estou a ficar decididamente farta com as lutas entre sindicatos de prof, tutelados pelo "bigodinho", e a milu, não. não é o cãozito do Tintin, mas o petit-nom que dei na minha esfera de íntimos à actual ministra da educação. estou decididamente farta ddas negociatas, negócios, trafulhices e sei lá que mais, de todos os bpn, bpp, freeport deste país. estou decididamente farta do interminável processo da casa pia, da menina esmeralda porto e do casal gomes lagarto ou lagarto gomes, da faty felgueiras de felgueiras, dos a´rbitros de futebol, do pinto da costa, do valentão de gondomar, do benfica e do sporting. valha-nos o leixões.
estou decididamente farta dos debates politicos de politiquice rasca e mesquinha dum parlamento indigente dum país pequenino.
estou decididamente farta deste portugalinho que continua a viver das memórias de uma época aúrea o alfa e o zénite do nosso descontentamento e da nossa destruição,
estou decididamente farta da espera das pimentas do reino que tardam em chegar e da impossibilidade de nos repensarmos sem o toque dos diamantes do brasil ou dos escravos de angola.
esta crise, globalizantemente global, veio mesmo a calhar...eu gosto dos tempos de crise, da quedas dos paradigmas certinhos e securitários, das verdades que não se contestam... eu gosto das crises que provocam rupturas profundas, abanam, magoam, mas obrigam à regeneração, á criatividade, à ousadia... yes, we can...
será que nós, estes tugas do fim da europa, da parte mais setentrional do continente africano, estes tugas crioulos de uma mestiçagem não completamente assumida, será que nós, repito, somos capazes de nos reinventar, de colectivamente, em palavras e actos, gritarmos yes we can, ou, como é natural, ficarmos à espera de outros brasis?
Qualquer dia não vai demorar muito, o nosso verdadeiro presidente será o ZéDu angolano e não este sinistro senhor professor,por extrenso e com maiúsculas, cavaco e silva, de boliqueime, algarve, portugal.
não que me incomode angola, longe disso... mas sempre é preferiível esta democracia indigente e irresponsável, que é a do modelo portuguê, não culpa de quem lutou pela liberdade e deu o coiro por uma utopia, mas por um atavismo secular de funcionarite aguda. não, angola não me incomoda, mas não gosto das paradas da ditadura...
por acaso, agora, e não é do frio, da neve ou da chuva gelada, apetecia-me estar a 7 ooo km daqui e aterrar em terras de palmeiras, embondeiros, petróleo e diamantes.
mas não pode ser já...
adiante

decididamente o problema deve ser meu... e vivam os tugas deste portugalito indigente.
E eu que preferia que a pátria fosse mátria e que tivesse a capacidade de se regenerar, criativa e colectivamente. yes, we can... e valha-nos a santa utopia e viva a sacrossanta liberdade...

não sei para o que me deu

não sei para o que me deu...
estava muito bem a escrever um texto muito sério (trabalho académico e agora não posso falar dele) quando me apeteceu iniciar um blog.
evacontramaria não é de todo original. aliás, em tempo, criei um blog com este título, mas pouco o utilizei. era uma coisa no sapo e eu não consumo o sapo, não gosto do sapo, não tenho o hábito de visitar o sapo e a coisa caiu em desuso.
pois não sei o que me deu e aqui estou a debitar palavras para inaugurar uma coisa que sei que não vai ser lida (a não ser por algumas pessoas amigas), não tem qualquer interesse, não serve para nada.
enfim
há dias assim
hoje não me apetece comentar as notícias que inundam as páginas dos jornais de qualquer formato e são abertura insistente de todos os telejornais, jornais nacionais e assim das televisões deste solo pátrio...
não me apetece falar do tempo que está chuvoso.
não me apetece falar de livros ou de música ou até de arte...
nem quero transformar isto em páginas eruditas duma erudição que não quero aqui.
apetece-me falar da vida... as coisas simples e difíceis da vida...
dos prolongados cafés que se tomam pela manhã adentro, esquecendo tanto que há para fazer, numa preguiça dolente, a que faz falta um último cigarro que já não fumo há muito porque não posso mesmo fumar
das mensagens que se trocam e não dizendo nada dizem tudo.
das lágrimas que se advinham e dos risos que saltam nervosos porque os dias são pontuados por uma tristeza pungente, de desânimo, de insatisfação, de...

pois é
evacontramaria
mais eva que maria
mais maria que eva
mas mulher
que sou
feminista talvez
mas sem ódio ao homem
muito pelo contrário
mais compaixão
mais eva forte
que maria submissa
mais eva rebelde
que maria diligente
mais maria paciente
que eva apressada
mais maria silenciosa
que eva ameaçadora
mas sempre mais eva que maria
mas maria e eva numa simbiose de contrário.~
uma contra a outra e as duas em sintonia

pois é