quinta-feira, 23 de abril de 2009

Angola 5 (acho)

Continua a fazer muito calor.
O ar condicionado, onde estive metida na 3ª feira, fez-me não sei se alergia, se constipação... o que sei é que fungo, mas nada de especial, para além de estar picada pelos mosquitos, esperando que nenhum desses seres abjectos estivesse consporcado pelo virus do paludismo, pois é uma doença bué de chata... eu sei do que falo, pois já tive 10 por campo...

Há material de primeira água para a minha tese e, sobre isto, fico-me por aqui...
Uma coisa que me tem admirado muito, é a falta de cursos de História nas diversas Universidades Angolanas. O governo, nomeadamente a secretaria de estado do ensino superior, faz passar, em tempo de publicidade, indicações dos cursos ministrados nas várias universidades e, em nenhuma encontro a menção a uma licenciatura em História. Leio, sim, Ciências Políticas...
Mas a história desta nação tem de ser feita e com quem?
Deixo a questão no ar.... efectivamente pouca coisa tem sido produzida... mas era já tempo e tempo de reencontrámos as nossas histórias... acho piada falar-se muito da CPLP e não haver uma memória comum. Nada surge por acaso, ela é fruto de desenvolvimentos anteriores, de encontros e de muitos desencontros, de aproximações e de afastamentos, de lutas, de guerras, de negociações e de paz , mais ou menos conseguida, mais ou menos fantasiada. Será a História que nos toca a todos que poderá ajudar à compreensão dos dias de hoje e das relações que antigos colonizadores e ex-colonizadores actualmente tecem, não desligadas de um amor/ódio, de lembranças que magoam, que calam fundo e que fazem ainda sangue, porque os povos, como as pessoas, têm também memórias e são essas memórias que podem fazer com que os povos, as nações, como as pessoas, se consigam reencontrar consigo e com os outros, num mesmo plano, no plano de uma cidadania plena.
É isto que acontece?
Francamente acho que não e os tiques que opuseram povos e nações persistem, provocando nódoas que alastram no convívio do quotidiano.
Racismo primário surge de parte a parte, desconfianças são mais do que muitas...
Enquanto não conseguirmos, colectivamente, aceitar as nossas histórias e no muito que se tocam, sabendo que não são histórias heróicas, antes feitas por homens e mulheres que também erraram, porque viver o dia a dia não permite avaliações objectivas, antes exige a resolução do que é mais comezinho...
Nestas nossas histórias, que se transformam numa história comum, não há, para mim, heróis, santos, algozes e vítimas. Os homens e as mulheres que foram os actores deste drama tiveram um pouco de tudo... Contudo, o sistema colonial português e o regime ditatorial português, rumando contra os ventos da história, tornou-se inexoravelmente no grande responsável pelo que depois os povos tiveram de sofrer...
Sinceramente considero que é fundamental que todos, portugueses, angolanos, moçambicanos, guineenses, cabo-verdeanos e timorenses, nos reconciliemos com a História que nos é comum, não venerando-a estupida e acriticamente, mas compreendendo-a para, juntos se tal for possível, nos encontrarmos na Língua Portuguesa que não é monolítica, mas cheio dos matizes que a enriquece a a torna única.
Alguém me dizia, já aqui em Angola, que seria o cumprimento da pessoana profecia do 5º Império... prefiro antes rever-me no mesmo Pessoa e na minha pátria como a Língua Portuguesa, eu que, muitas vezes, não sei bem se tenho pátria e se quero como minha a pátria que aceitou o meu registo, quando ainda havia colónias, transvestidas em províncias ultramarinas para que a carta das nações unidas não pudesse ser cumprida por um governo que oprimia uma multiplicidade de gentes e de povos.
E hoje que é dia do livro, como é delicioso ler esta língua escrita por gente tão diferente e de forma tão diferentes, mas de uma maneira tão rica, criativa e inovadora...
Os meus maiores cumprimentos a todos aqueles que sem qualquer pudor tornam mais rica a pátria comum que é a Língua Portuguesa.

Sem comentários:

Enviar um comentário