quinta-feira, 9 de abril de 2009

Angola 2

Hoje é o dia de quinta feira santa no calendário litúrgico do cristianismo.
A televisão está ligada e as reportagens de rua no canal 1 da TPA, para além do cumprimento do código de estrada que entrou em vigor no passado dia 1 do corrente e em tudo semelhante ao português, prendem-se com a celebração dos rituais da paixão e morte de Cristo, o tempo mais forte e emblemático das religiões cristãs, com o catolicismo a imprimir uma solenidade desconcertante.
Educada no seio da religião católica, tendo até sido aluna, durante vários anos, num colégio das irmãs doroteias, há muito que perdi (se é que alguma vez tive bem consubstanciada) a fé, esse dom, no dizer de alguns, não é dado a todos ou que nem todos têm a capacidade de vivenciar.
A minha fé, aquilo em que acredito, tem a ver com a capacidade dos seres humanos se regenerarem, de procurarem ser melhores e de contribuírem para que a vida do dia a dia seja menos desigual e com mais qualidade, se é que isso é possível e não a continuação de uma utopia. As minhas crenças, se possível, terão mais a ver com o Yes we can, ou o Yes I can, glosado até à exaustão e como tal uma palavra de ordem já desprovida da carga simbolicamente positiva que transportava quando pronunciada na campanha do Obama.
Porém, da exege católica retiro muitas vezes o conceito presente neste tempo forte da liturgia católica - a ressurreição. Não que eu acredite na ressurreição final e na vida que há-de vir, como se reza no Credo, mas na ressurreição de todos os dias, no levantar continuo e continuado, no caminho do calvário como uma prova de superação, na crucificação como um forma de aprendermos a ser melhores, mais fortes, mais íntegros (se tal é possível nesta sociedade amoral), mais humanos, no meio das nossas fraquezas e das quedas diárias, quando aquilo que realizamos fica muito aquém do projectado.
E a paixão de cristo, como paradigma do sofrimento, também nos ensina que a dor, as lágrimas, as dificuldades podem ajudarmos a crescer e a sermos melhores, para que os risos e os cânticos possam ser efectivamente sentido nesta festa que é a vida.
Talvez se agora estivesse na europa não escrevia o que estou a escrever.... mas o calor tórrido que me incomoda, os mosquitos que esta noite volteavam à volta da cama e me acordavam com os seus voos assassinos, o trânsito caótico de Luanda e arredores, enfim, todo este excesso, me levem a escrever um texto bem mais "religioso" do que pensaria fazer quando me sentei a acrescentar uma página a este meu inconsequente blog.

1 comentário:

  1. Que texto legal! Sim, se todos fizessem um pouco de tudo isso no dia a dia a páscoa era até mais celebrada e vivenciada como deve ser! E não só a preocupação de correr ao supermercado e comprar as amendoas e se fartar de cabrito no domingo!
    bjs!!

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