quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Lembranças


lembras-te quando os dias ainda corriam calmos
e era possível o entrelaçar dos dedos?

era já inverno
mas o calor deixava que entreabrisse o decote
e o peito se agitasse a um ritmo tropical.

n café de todos os dias
esperava um cinzeiro
cama última de cigarros esquecidos
na voragem das palavras que atrapalhavam a boca.

eram tempos de dias calmamente agitados
mas de uma feliz agitação irresponsavelmente vivida

contávamos os minutos
sentados em cadeiras estranhas
e com os olhos devorávamos lábios
que pronunciavam frases indizíveis.

eram tempos de sobressalto
e também de angústias e de medos pressentidos
mas gloriosamente ignorados.

agora
que a penumbra ensombra os dias claros
e o sobressalto dá lugar a uma tristeza inaudível

percorro os lugares de sempre
na inquietação dum retorno impossível.

1 comentário:

  1. Lembras-te das mensagens emergentes e intensas de tudo e de nada que trocamos por necessidade de contacto, afinidade e procura de respostas?
    Lembras-te dos encontros matinais à volta da mesa do café, com a vidraça que permite os olhares dos "outros" que se cruzam no nosso quotidiano?
    Lembras-te do consolo que só tu és capaz de me dar? A palavra, o olhar, o riso e a desmistificação...contigo tudo se torna mais fácil.
    Lembras-te das viagens percorridas pelas palavras e emoções?
    É tão bom viajar mesmo sem sair daquela mesa de café; e como nós o conseguimos, Amiga!
    Graça

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