segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Bacantes II

Bacantes II

Não havia um piano longo na sala escurecida
Nem o rapaz triste tocava no violino um melodia antiga
Era só um dia chuvoso num inverno frio e comprido
E o calor da lareira de canto ridiculamente de canto naquela sala com ar antiquado, piroso mesmo
Convidava a uma bebida mais demorada
uma bebida quente que deixasse marcas avermelhadas nos dedos longos despretensiosamente nus

Não estava vestida de lamé a que um comprido colar de pérolas conferia um ar remotamente distinto
Nem sequer o decote em bico deixava entrever o arredondado do seio moreno
Estava unicamente mergulhada na bebida fumegante
Sentada junto a uma lareira de canto numa sala antiquada de café de província

Não precisava do piano de cauda
Do copo de cristal com um vinho recomendado nas páginas das revistas mais exigentes
Do som triste do violino tocado pelo rapaz de olhar distante e comprometido
Não
Não precisava de nada para naquele momento
Encarnar uma deusa distantemente distanciada dos mortais
Que adoravam baco servindo-se de bacantes escravizadas.

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